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Capítulo 4: O Exército De Dante

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Encostei o meu rosto gelado e insensível ao minúsculo vidro esculpido triangularmente, e visualizei dilatadamente de forma inerme e indefesa, a derradeira manifestação corpórea do mal em mais um plano maquiavélico encomendado pelo senhor das trevas ao seu filho demónio.
As minhas mãos trémulas e arrepiadas, como as de um idoso nos seus últimos dias de vida, mal conseguiam sentir a textura plana do metal resfriado da porta futurista à prova de bala; agravando a minha respiração acelerada que embaciava ligeiramente o cubículo visual da única barreira segura que separava o paraíso do inferno. Naquele instante, senti-me tão minúsculo, tão impotente e inutilmente vazio como se estivesse enjaulado numa gaiola construída com inércia; ao registar na memória aqueles homens que, outrora partilhavam comigo gargalhadas nas pausas entre as partidas de "snooker" no ruidoso refeitório da “GenoTech”, e que agora faleciam brutalmente transformando-se naquelas criaturas malignas, despojadas de quaisquer ligações emocionais humanamente significativas de amor ou amizade, reduzidas ao instinto animalesco do "darwinismo" selectivo da sobrevivência do mais forte sobre o mais fraco, como soldados perfeitos do exército demoníaco comandado pelo general Dante.
Aparentemente, aqueles demónios adultos recém-convertidos, providos de instintos básicos de sobrevivência extremamente apurados, repararam na minha presença, fitaram-me nos olhos e vieram na minha direcção em fila indiana, ostentando aqueles dentes vampíricos afiados e pontiagudos, babando-se por uma trinca de carne e um golo de sangue, consumindo gradualmente o espaço geométrico numa sombra escura de morte. Uma surdez temporária invadiu repentinamente o meu tímpano sensivel, ao cravarem e deslizarem as suas unhas selvagens ao longo do vidro, num calafrio sonoro cerebralmente insuportável. A minha vida encontrava-se novamente em perigo; com os pontapés gananciosos, murros vingativos, batidas demolidoras e amolgadelas perfurantes no muro de aço branco, símbolo de paz, intransponível apenas por enquanto. Coloquei a penúltima máscara biológica disponível na vitrine de primeiros socorros, na tentativa cautelosa de protecção contra um eventual risco de contágio, e afastei-me definitivamente do portão inquebrável numa correria convicta por entre corredores infindáveis de luzes vermelhas intermitentes, desta vez em direcção à "Sala de Comunicações" na esperança de pedir ajuda.
O complexo de comunicações, era o único concebido independentemente dos restantes laboratórios científicos, que estavam todos ligados à divisão principal onde teve lugar o acidente quimíco.
O acesso estava selado como seria prevísivel, automaticamente trancado pelo sistema informático após activação do protocolo de emergência. A transposição da mencionada barreira arquitectónica, implicaria sempre o scanner da retina ocular de um dos funcionários daquele compartimento específico, e eu não tinha o nível de acesso necessário para aceder a essa área restritiva, por isso seria uma tentativa absolutamente em vão. Bati ferozmente no portal inoxidável, gritei no intercomunicador e na câmara de vigilância mas ninguém parecia ouvir as minhas preces frustrantes. Comecei a desesperar passivamente num colapso psicológico superficial. Sentei-me no chão com as pernas cruzadas asiaticamente, elevei as mãos à cabeça e foi no meio desse procedimento perturbante que reparei na grelha metálica do ventilador de ar, colocado estrategicamente por cima da portada electrónica. Dei uma biqueirada intencionalmente forte com a sola de borracha resistente e pesada do meu calçado multi-desportivo, e entrei ajoelhado naquele buraco negro e claustrofóbico. Percorri vigilantemente aquele labirinto de alumínio infinito quase às cegas, numa respiração afoguiante e oxigenada, até chegar com sucesso à "Sala de Comunicações".
Foi então que me deparei com um cenário ainda mais assustador: todos os empregados estavam mortos, liquidificados num verdadeiro "saquê" de sangue, possivelmente contaminados pelo vírus que se propagou no ar através do exaustor, que estava ligado à conduta ventilante onde deflagrou o trágico "incêndio diabólico". Sem mais demoras, peguei bruscamente no microfone e uma luzinha amarela florescente acendeu-se de imediato na linha privada, dando a indicação da chegada de uma "mms" emitida do "Comando Central do Pentágono". A mensagem audio-visual não era totalmente perceptível; continha inúmeras interferências e ruídos mas foi suficientemente clara para captar o essencial das palavras preocupadas do coronel “Redford”, e que o plano de evacuação para Marte estava em marcha. Tentei aflitivamente responder de volta mas a ligação perdeu-se. Subitamente, todas as comunicações com o planeta Terra ficaram cortadas; certamente devido às inúmeras tempestades ciclónicas, aos tremores de terra destrutivos, aos tornados mortais, às temperaturas negativas abaixo dos cinquenta graus, às chuvas torrenciais ilimitadas e às calotes glaciares derretidas que avançavam apressadamente em direcção aos continentes...

P.S – Temia o pior, o vírus propagava-se rapidamente e só eu sabia da sua existência. O tempo esgotava-se contra uma nova ameaça desconhecida, na eminente chegada das naves espaciais de salvamento, porventura com a minha esposa e filho a bordo...

E se os mutantes contaminados conseguirem fugir da "Sala em Quarentena"?

E se o vírus propagar-se para fora das instalações da "GenoTech"?

Que lugar haverá para a Humanidade?

A Continuar...

Autor Da Imagem: Paulo Madeira Em http://paulomadeira.net

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