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Capítulo 9: Encontros Imediatos De Terceiro Grau

Música Recomendada: Full Attack - Steve Jablonsky

Lascas de cinza humana arrefecida fundiam-se quimicamente com o ar, absorvendo a última réstia de oxigénio benigno, na queda desamparada do meu corpo inerte e esgotado, que apenas suportava o peso do brinquedo do Homem feito para matar. O indicador firme e sólido, não hesitava em premir o gatilho da arma futurista que fumegava com os disparos cíclicos das balas plasmáticas circulares que, percorriam o corredor em chamas ceifando a vida de todos e de cada um dos guardiões das trevas. Um após o outro, tombavam perpendicularmente, como uma sequência perfeita de dominó que se vai desmoronando, rápida e progressivamente numa desconstrução corporal de areia; condenados ao estigma de um espírito aprisionado eternamente, na prisão dos pecadores que violaram a sua liberdade condicional no Inferno.
Apareciam com a mesma rapidez que desapareciam, numa dança quase invisível, um para cada bala, como se as suas pseudo-vidas tivessem tido uma história amorosa atraiçoada no passado, e o projéctil de chumbo tivesse regressado oportunamente para coleccionar a recompensa da sua vingança. Persistentemente, aquelas criaturas psicadélicas, maniatadas cerebralmente como marionetas “kamikaze“ saidas de uma peça teatral psico-dramática, continuavam a marchar convictos da sua nobre missão, fazendo estremecer os azulejos de mármore das paredes encardidas de pele queimada, contendo mensagens de morte resultantes da combustão dos seus despojos orgânicos. O espaço geométrico envolvente tornava-se cada vez mais diminuto e asfixiante, numa ilusão de óptica sensorial alimentada pelo medo mental de sucumbir às poderosas investidas do inimigo. Inesgotavelmente, na tentativa de contrariar as forças ocultas do Universo, naquele temeroso momento de premonição consciente de que algo vai correr mal: o som ligeiramente abafado e o cheiro insuportável a pólvora queimada procedentes do último cartucho disparado que, saltava vagarosamente num movimento ascendente em espiral, contrastavam com a normalidade dos sintomas mecânicos da arma híbrida topo de gama, deixando antever a iminência anómala do erro fatal. Uma lágrima preta de suor, resvalava pelo meu rosto coberto com o pó de alguém, deixando o rasto azarado do triplo seis na sua queda livre, numa sincronização espácio-temporal rigorosa; no contacto com o osso manual, dilatado e exausto, do repetido movimento cinético muscular de premir o gatilho como um amador. Instantaneamente, ao espreitar pela lente de zoom telescópico para fazer pontaria como um olho sagrado que tudo vê, a bala perfurante perde a coragem de voar e encrava inesperadamente na câmara de ar, possibilitando o contra-ataque demolidor do que restava do exército pomposo do rei das trevas.
A sombra nocturna, formatada num misto vampírico: metade lobo, metade homem, aterrou violentamente no meu perímetro abdominal, tentando arrancar-me bruscamente a arma das mãos e despojar-me do meu seguro de vida mais valioso e eficaz. Desesperadamente, na tentativa persistente e raivosa de disparar a todo o custo, no meio daquela luta “mano a mano“ completamente desleal do homem versus monstro, orquestrada pelo Deus do submundo, os sinais vitais da minha vida espiritual começavam a fazer os preparativos finais para abandonarem o meu corpo massacrado das bofetadas, que me projectavam em ricochete pelas paredes desfeitas de um canto ao outro da sala. Quase morto, invoquei um Deus anónimo e fiz-lhe uma pergunta: Se eu sou o salvador do Mundo como posso morrer sem cumprir o meu destino? Não obtive uma resposta telepática nem ouvi uma voz do além, mas algo mágico aconteceu naquela fracção de segundo. Abri ligeiramente o olho esquerdo em ferida, inchado e coberto de sangue, o único que ainda conseguia vislumbrar desfocadamente aquela luz de esperança no fundo do túnel e, numa visão entorpecida com apagões sistemáticos, consegui aperceber-me que a arma militarizada permanecia estaticamente numa posição central, estabelecendo uma linha divisória imaginária que me separava do monstrengo impiedoso.
Rastejei cambaleando, aos tombos, mais com o coração do que com o corpo, com as forças mínimas que ainda me restavam nos ossos, músculos e pele, na ânsia de alcançar a espingarda e alvejar o advogado do diabo antes que ele matasse a única testemunha ocular do plano diabólico de Lúcifer para conquistar definitivamente o Mundo. Quando a besta ranhosa, afiava preliminarmente as suas garras laminadas para desferir o golpe fatal, agarrei acrobaticamente na arma moderna, convicto que desta vez o projéctil de chumbo tivesse a coragem de atingir o seu alvo e, disparei um tiro certeiro mesmo no centro da caixa craniana, confirmando aquela máxima de que uma bala diz sempre a verdade. No entanto, apesar do feito hercúleo, esta vitória provocaria apenas um singelo arranhão no poderoso exército dantesco, que ainda permanecia de pé como uma rocha inabalável, avaliando-me desrespeitosamente com um sorriso cínico e pervertido na clara mensagem vingativa de que o pior ainda estava para vir. Afiaram os dentes aguçados esfregando-os na língua em tom provocatório, soltaram o seu grito de guerra esfomeado e correram ferozmente na minha direcção, seguindo o rasto de sangue das feridas dilaceradas que me enfraqueciam minuto a minuto, enquanto tentava arrastar-me até ao elevador que dava acesso ao "Hangar das Naves Espaciais".

P.S - Um contra todos e todos contra um, parecia um lema outrora celebrizado historicamente por um célebre trio, mas que agora via os seus predicados alterados pela injustiça divina de um Deus que tenta escrever direito por linhas tortas...

A Continuar...

Autor da Imagem: Pedro Pinto Em http://olhares.com/thales1


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1 comentário:

Anónimo disse...

Bem..está simplesmente fantástico! Imaginação e criatividade não te faltam. Quanto mais leio mais vontade tenho de saber o que acontecerá a seguir..:) Sara Costa

 
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