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Capítulo 14: Gun-Fu

Música Recomendada: Castor - Daft Punk

De tenra idade, renascidos da forja humana com a ambição motivadora potenciada pela inocência da sua curiosidade filosófica, iniciavam a sua preparação física e aprendizagem intelectual no “Agoge”,um centro de formação militar que visava treinar intensivamente os jovens soldados amadores numa arte marcial milenar, o "Gun-Fu", a fusão perfeita entre a perícia de disparo com uma arma de fogo e a técnica corporal de auto-defesa pessoal, apaixonadamente embrenhadas numa finalidade comum, proteger e eliminar a todo o custo.
O antigo entrelaçava-se fielmente com o moderno numa redoma sensível de conhecimentos teórico-práticos, alheios ao anacronismo da formulação e reformulação constante, ao longo de décadas, do papiro revelador dos princípios fundamentais de combate, rabiscados com o objectivo precípuo de maximizar eficientemente a capacidade de tiro assente na predição intuitiva da posição angular de cada invasor hostilizante.
Possibilitando um acréscimo percentual de sucesso na ordem dos cento e vinte por cento comparativamente a um simples ataque convencional, este poderoso instrumento secreto só estava ao alcance das mentes mais dotadas reflexivamente, mutuamente acompanhadas por atributos físico-atléticos minuciosamente seleccionados devido à demanda dos elevados níveis de concentração psicológica e exaustiva mobilidade motora na execução imaculada de um gesto sangrento desferido para matar.
O espaço circundante era memorizado visualmente num milésimo de segundo, na fotografia de um mapa mental que continha a posição exacta de cada inimigo num plano tridimensional, conferindo ao autor da sua exímia compreensão, um único golpe certeiro capaz de eliminar trinta alvos simultaneamente como um carrasco profissional coleccionar de cabeças numéricas. Improvisação e adaptação eram as palavras de ordem, num mundo ainda regido por leis naturais que podiam ser contornadas pela criatividade inesperada da inovação espontânea, o elemento surpresa como afirmava o meu mestre. A interiorização mecanizada deste estilo materializava-se em torno de um círculo idealizável possuidor de dois graus distintos, o primeiro correspondia ao treino corpo-a-corpo executado e aperfeiçoado no dojo sob o tatame japonês, o segundo reconduzia o estudante para um ambiente virtual que simulava todos os cenários possíveis e imaginários de abordagem ofensiva, sem esquecer o confronto agrupado ou individual que pudesse decorrer das inúmeras circunstâncias apresentadas em tempo real. Ângulos infinitos de trajectórias aleatórias eram cuidadosamente calculados e analisados analiticamente por um super-computador holográfico, numa representação estatística dos movimentos tácticos e geométricos de cada agressor no momento anterior e posterior de premir o gatilho, fintando evasivamente todo e qualquer dano colateral que pudesse advir desse penoso e intencional acto violento.
Vinte anos, era o período cronológico que separava o miúdo delgado e inútil do adulto musculado e ágil ao serviço da infantaria de elite, os guerreiros virtuais recém-graduados com prestígio e excelência que transportavam a insígnia invisível da virgindade empírica no campo de batalha. Assassinavam em nome do "Pai", líder dos seguidores, chefe dos governadores, toldados por um bem superior humanitário de igualdade e liberdade confundível com um gesto de agradecimento egoísta de guarida das suas vidas repletas de insignificância à nascença num berço de palha. Infelizmente, eu era um deles, revoltei-me fortemente contra o sistema opressor e desertei cobardemente durante toda a minha vida. As noções extremamente avançadas de informática escancararam-me as portas da absolvição sofrida e demorada, ao ludibriar o pacemaker de localização implantado nas entranhas do meu músculo cardíaco como uma reversível doença terminal. Forçado a mudar de identidade, refugiei-me na penúria da minha sombra fugitiva, escondido atrás de uma secretária fria e atulhada de manuais de linguagem pascal, uma penitência isolada atenuada apenas pela aparência de um mero técnico de programação que agora era procurado para ser exterminado pelo mesmo governo responsável pela sua própria invenção...

"A única coisa mais poderosa que o sistema, é o homem que o conseguir derrubar"

A Continuar...

Autor Da Imagem: Nuno Ramos Em http://olhares.com/quartzob

Última Transmissão Humana © 2013. Todos Os Direitos Reservados.

5 comentários:

Anónimo disse...

Finalmente o passado da personagem encontra-se desvendada. Um desenrolar de história cada vez mais emocionante.***

Anónimo disse...

Mais uma vez excelente texto.... Sempre a supreender-nos com uma escrita arrojada e fora do vulgar.. por vezes fico a pensar de como és capaz de ter tantas ideias e idealizares estes textos magnificos.
Parabéns!

Beijo
Nokinhas

Anónimo disse...

UAUUUU... sem palvras, quer dizer uma única palavra: Soberbo.

Tal como no texto, em que se associa a defesa pessoal com o disparo de uma arma, tu associas a ficção a arte de bem escrever. Parabéns.

Carla Ribeiro disse...

Aqui estou eu, enfim, para te deixar o meu comentário... E nem sei bem por onde começar.
Bem, antes de mais, parabéns pela magnífica unidade do teu espaço. A conjugação da imagem com as cores e com o som é, por si só, um imenso atractivo e dá vontade de divagar pelo teu blog.
Adoro a forma como as imagens e as cores se relacionam com o texto, criando um ambiente envolvente, como se abrisse as portas da própria história.
E passando ao texto. Gosto muito da tua forma de escrita, bastante elaborada, o que se adequa ao contexto e ao género da tua história, mas também bastante original. Nota-se muito trabalho por detrás de todo o teu mundo e acho isso fantástico.
Por último, a banda sonora, fantástica pela diversidade de géneros e pela qualidade dentro de cada um deles, adequa-se plenamente ao ambiente dos textos, dando vida aos acontecimentos, como se estivéssemos a "ler um filme".
Em suma, gostei imenso. Vou continuar a passar por aqui à medida que fores continuando.

Muitos parabéns!

demigod disse...

Isto lembra-me bastante o Equilibrium, filme de 2002 de Kurt Wimmer. Também tinham uma arte marcial com armas chamada Gun Kata e o líder da sociedade utópica também era referido como "Pai".
No último quote pensei que estavas mesmo a falar do Equilibrium, no entanto, o texto até está bem construído.

 
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