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Capítulo 23: Tour De Force

Música Recomendada: Inhaler - Craig Armstrong


Espetei-me nos cacos velhos do jardim criminoso, como um míssil furioso calibrado para destruir, no cerne de uma circunferência monstruosa de devastação, aspirada para o espaço.
Entalado nos detritos selváticos dos dormitórios moídos em fibra, ergui o capacete de astronauta com alguma percentagem de vida, envolto em lençóis de linho cor de rosa e corpos pedantes injectados com botox que já não servia para nada. O refúgio prisional rangia de medo pelas entranhas avant-garde
da sua existência, como se nela habitasse um monstro quase a falecer, a expelir só mais um sopro de agonia antes do harakiri da sua eliminação. A batuta pulsante dos segundos escorregava com cadência, sintonizada no pináculo da destruição, no colapso iminente da estrutura espacial recortada, destinada a desvanecer-se em estrelas moribundas por todo o universo. Com certeza, a punição muy merecida das senhoritas “maricon“, pela mácula de excremento na fronha privativa do pai superior, hipocondríaco e obsessivo, que privilegiava o repouso sagrado na sua cama anti-séptica, asseada, inodora, incolor. 
As labaredas poliglotas do conhecimento espiritual, iluminavam a via sacra da imortalidade, como um samurai bem mandado e instruído, compelido a validar uma ordem sem pestanejar com a sua aceitação, sem memória, sem remorso, sem insubordinação.
Naquela conjuntura de beleza negra caótica, enquanto bracejava como um tubarão violento e astuto, embati com pujança no papamóvel do cérebro enlatado que dirigia aquela amostra de prisão, tão desfeito quanto a sua função, com duas cartolinas magnéticas cravadas em cada bícep biónico. Ao roçar subtilmente nos plásticos biodegradáveis de identificação, os sensores ultra-sensitivos do meu exosqueleto cibernético, estreavam-se a piratear a preciosa informação armazenada nos minúsculos pedaços de cartão, elucidando-me com todos os segredos mais obscuros daquele rapazito recém-apagado. Enfim, o cofre arrombado com algumas trancas na porta, revelava a presença de um teletransporte para o planeta azulado, um sol de boas vindas apenas alcançável depois do famoso senão, só poderia ser activado através das impressões digitais do viajante sortudo que já tivesse brincado com o robusto sistema de deslocação

Rasguei-lhe os pulsos ainda mornos, a transbordar litradas de óleo refinado, e "calcei" as suas patas manhosas de titânio, para desbravar terreno piloso como um anfíbio ágil e sagaz, até conseguir "agarrar" com firmeza o vórtex da salvação. Ali, mesmo à mão de semear, a minha única boleia de Inverno, completamente doida por me congelar a peida até à Antártida do tio Sam, onde as habitações familiares desenhavam-se como arcas frigoríficas, e os aviões comerciais imitavam cubos de icebergues, as estradas ruíam com os relâmpagos de neve, e o céu embrulhava-se em bofetadas de gelo, num lugar cada vez mais longínquo da minha família desprotegida.

"Os Monstros Existem. Eles Vivem Dentro De Nós...E Às Vezes, Eles Ganham."

Stephen King

A Continuar...

Autores Das Imagens: Paulo Madeira Em: http://paulomadeira.net
e Tiago Xavier Em: http://tiagoxavier.com


Última Transmissão Humana © 2013. Todos Os Direitos Reservados.
 
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