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Capítulo 27: Drops Of Heaven

Música Recomendada: In My Own Words - Craig Armstrong





Aqui e agora, neste pedaço de rocha ainda sem nome, entrego a minha candidatura solene ao homem da barca. Ele que me empurre gentilmente pelas margens serenas do rio celeste, que me lave abençoadamente com as mãos àsperas de quem purifica a alma encardida pela rigidez dos meus pecados infames, em legítima defesa. As serpentes enrolam-se na minha cruz corporal, como os grilhões de um messias acorrentado na última tábua do cadafalso, quase a estalar com o tombo no infinito da libertação eterna
E encaro a sentença de morte dos teus olhos justos de braços abertos, um joguete à mercê dos desígnios da tua vontade sábia, este teu servo readmitido permanentemente no turno da noite. Já sinto o soluço da pele a afogar-se na salina purgante da transição etérea, o ensaio da cegueira muda que engole os homens de deus, a dormência dos sentidos adquiridos pelo cobrador de impostos do segundo mundo. 
O meu titã já desceu o derradeiro degrau terrestre e desenterrou o túmulo de flores da verdade proibida. Não existe mais nada a temer, meu amor! Podem embalar o frasco do meu espírito para a tua morada, que lá estarei a partir de hoje e para sempre. O destino tentou apunhalar-me pelas costas como uma farpa cobarde, mas eu agigantei-me perante a sua sombra divina, além do limite racional do somatório de todas as forças combinadas do meu ser. Chegou finalmente a hora gloriosa de me imortalizar na Taprobana dos meus amores, lúcido e desconectado daquele videojogo esquizofrénico da minha sobrevivência mental.

Adeus mundo! Esta é a minha Última Transmissão Humana...


Autor da imagem: Tiago Xavier Em http://tiagoxavier.pt


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Capítulo 26: Deus Ex Machina - Part II

Música Recomendada: Rooftop Chase - Harry Gregson-Williams

O mundo começava a barrar-se de abandono, como uma criança perdida numa nudez terminal, amarfanhada no conformismo débil de um cuidado paliativo hibernado para sempre. Não existia nada de nada em meu redor, apenas o pulsar excessivo do meu coração imortal, arremessado para o caldeirão da tempestade, pela máquina do tempo desregulada, algures e nenhures, a escarafunchar como um cão louco por aquela Ursa familiar, sôfrego por alcançar as duas estrelas do meu firmamento.
Massas de ar hospitalar, arrepiavam caminho e acamavam o limite vertical, mas o meu exosqueleto invencível, rebobinava a directiva fundamental da minha missão de terminador insaciável, enquanto a solução universal de todas as equações imaginárias, conseguisse comportar a variável improvável de um Deus Ex Machina.

A Continuar...
 

Autor da imagem: Luís Lobo Henriques Em http://olhares.aeiou.pt/lloboh 

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Capítulo 25: Deus Ex Machina - Part I

Música Recomendada: Rekall - Harry Gregson-Williams

Naquele carreiro tão merdoso, aonde a perversidade do céu obscuro, provocava o ciclone do solo, cercado pela ramagem violenta que folheava páginas de lâminas marciais, coordenadas ardilosamente para a emboscada silenciosa do fantasma da ópera. Nalgum recôndito ainda prematuro, na ingenuidade pacífica da Natureza, mesclava o odor bárbaro da investida forasteira, enquanto o tilintar suave de cada passada instantânea, zombava pacientemente até ao momento proveitoso do ataque engendrado. Os meus pés pálidos e níveos, enterravam-se na baba albina que se amontoava até à cintura, em sintonia perfeita com o nevoeiro mórbido que se adensava sobre a minha testa enfeitada de escárnio. Sentia-se o frenesim mudo dos bichos de lençol, a namoriscar com a minha sombra solteira, a esquadrinhar o tempero do vulto da minha existência, ciosos e necessitados de lhe saltar encima e violar a sua privacidade. Cobardes sem rosto que intimidavam sem alvorejar, respiravam de esguelha, espancavam de raspão, apalpavam de fugida e pisgavam-se em vão, camuflados no secretismo da paisagem cremosa que pactuava com aquela incumbência fraternal.

A continuar...
 

Autor Da Imagem: Paulo Madeira Em http://paulomadeira.net

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Capítulo 24: Kryos Abyssum

Música Recomendada: Battle On Land And Sea - Steve Jablonsky

Eu Vou Entrar:

Ovelha tresmalhada que regressa à manjedoura insípida do
pastor,
Animal louco, peça de gado revolto que desafia as pegadas do senhor,
Bramido feroz, tormento atroz de um morto que recusa pisar o cadafalso,
Tempestade branca, lixívia santa que tinge a ferida aberta no seu encalço...

Eu Vou Ficar:


Boneco
de neve decadente, talho de gente, suplício mudo
de piedade,
Regos curvados, crânios embaralhados, espantalhos que deixam saudade,

Porcos esgravanados, filhos e enteados, gelado servido num cone de água,
Meu doce pecado, condeno ou sou condenado na minha própria mágoa...


Eu Vou Lutar
: 

Sentinela
do passado, meu herdeiro, meu legado, meu destino fracassado?

Lágrima de amor, remédio da dor, garrafa de esperança do mar salgado,
Espero por ti na gruta que nunca dorme, o mundo tem fome de vingança,
Viveremos sem mil anos de glória, juntos na memória da minha herança...

"A única coisa necessária para que o mal triunfe, é que os homens bons nada façam"

Edmund Burke


A Continuar...

Autor Da Imagem: Grendel Em: http://www.grendelart.carbonmade.com


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Capítulo 23: Tour De Force

Música Recomendada: Inhaler - Craig Armstrong


Espetei-me nos cacos velhos do jardim criminoso, como um míssil furioso calibrado para destruir, no cerne de uma circunferência monstruosa de devastação, aspirada para o espaço.
Entalado nos detritos selváticos dos dormitórios moídos em fibra, ergui o capacete de astronauta com alguma percentagem de vida, envolto em lençóis de linho cor de rosa e corpos pedantes injectados com botox que já não servia para nada. O refúgio prisional rangia de medo pelas entranhas avant-garde
da sua existência, como se nela habitasse um monstro quase a falecer, a expelir só mais um sopro de agonia antes do harakiri da sua eliminação. A batuta pulsante dos segundos escorregava com cadência, sintonizada no pináculo da destruição, no colapso iminente da estrutura espacial recortada, destinada a desvanecer-se em estrelas moribundas por todo o universo. Com certeza, a punição muy merecida das senhoritas “maricon“, pela mácula de excremento na fronha privativa do pai superior, hipocondríaco e obsessivo, que privilegiava o repouso sagrado na sua cama anti-séptica, asseada, inodora, incolor. 
As labaredas poliglotas do conhecimento espiritual, iluminavam a via sacra da imortalidade, como um samurai bem mandado e instruído, compelido a validar uma ordem sem pestanejar com a sua aceitação, sem memória, sem remorso, sem insubordinação.
Naquela conjuntura de beleza negra caótica, enquanto bracejava como um tubarão violento e astuto, embati com pujança no papamóvel do cérebro enlatado que dirigia aquela amostra de prisão, tão desfeito quanto a sua função, com duas cartolinas magnéticas cravadas em cada bícep biónico. Ao roçar subtilmente nos plásticos biodegradáveis de identificação, os sensores ultra-sensitivos do meu exosqueleto cibernético, estreavam-se a piratear a preciosa informação armazenada nos minúsculos pedaços de cartão, elucidando-me com todos os segredos mais obscuros daquele rapazito recém-apagado. Enfim, o cofre arrombado com algumas trancas na porta, revelava a presença de um teletransporte para o planeta azulado, um sol de boas vindas apenas alcançável depois do famoso senão, só poderia ser activado através das impressões digitais do viajante sortudo que já tivesse brincado com o robusto sistema de deslocação

Rasguei-lhe os pulsos ainda mornos, a transbordar litradas de óleo refinado, e "calcei" as suas patas manhosas de titânio, para desbravar terreno piloso como um anfíbio ágil e sagaz, até conseguir "agarrar" com firmeza o vórtex da salvação. Ali, mesmo à mão de semear, a minha única boleia de Inverno, completamente doida por me congelar a peida até à Antártida do tio Sam, onde as habitações familiares desenhavam-se como arcas frigoríficas, e os aviões comerciais imitavam cubos de icebergues, as estradas ruíam com os relâmpagos de neve, e o céu embrulhava-se em bofetadas de gelo, num lugar cada vez mais longínquo da minha família desprotegida.

"Os Monstros Existem. Eles Vivem Dentro De Nós...E Às Vezes, Eles Ganham."

Stephen King

A Continuar...

Autores Das Imagens: Paulo Madeira Em: http://paulomadeira.net
e Tiago Xavier Em: http://tiagoxavier.com


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Capítulo 22: Leviatã

Música Recomendada: Abort Mission - James Newton Howard

Afasta-te De Mim:

No pélago voraz da quimera suástica, ergue-se o tentáculo do polvo rabino,
Octópode abismal do chacal lazarento que dança o foxtrot sem tino,
Caçador de vidas, no ramadão da morte, a bela maçã permitida apodrece,
Lacaio que fuma um charro, heresia, monstruosidade que arde e arrefece

Não Aguento Mais:

A casquinar no cume da sucata real, a snifar neblina trucidada em mágoa,
Orgulho ariano, barbárie omnipotente, detergente de vinho tinto e água,
Sanguessuga possessiva, que ejacula o géiser gangrenoso dos pecados,
Morde, arrota, os esqueletos que atravessam os vidros, pobres malfadados…

Mata-Me Logo Seu Cabrão:

Liberta-me, exorciza-me, do escárnio desta alma louca que não é minha,
Desinfecta-me, purifica-me, esta ferida que me destrói e definha...

Fui:

Laivos de escarlatina irrompem pelas minhas veias em octana, vou morrer,
Por cada um de nós que tombar, outro se erguerá para te abater...

“Exercerei contra eles uma vingança terrível, castigando-os com furor
. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor, quando fizer descer sobre eles a minha vingança.”

Ezequiel, Cap.25-V.17

Autor Da Imagem: Paulo César Em http://paulocesar.eu

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Capítulo 21: Boeing Fatale

Música Recomendada: After The Crash - Michael McCann

Abdul-Malik, o servo do mestre, amarrado voluntariamente a um vasto colete islâmico, abarrotado até ao pescoço com engenhos explosivos de fabrico artesanal, vociferava convictamente os manuscritos sagrados do intocável “Alcorão”, naquele acto epifânio que antecedia a cremação do seu corpo esbanjado numa moeda de pó.
Ajoelhado na alcatifa manchada de vida, aos pés dos dois comandantes apunhalados, brutalmente retalhados com três golpes perfeitos desferidos na nuca, o terrorista muçulmano, sadicamente empedernido no habitáculo de pilotagem, executava o derradeiro rito para despenhar o "boeing fatale", no coração inocente das indestrutíveis torres gémeas do “World Trade Center“. Naquele segundo funesto, após a queda abrupta das máscaras de oxigénio sabotadas, eu rastejava verticalmente para proteger com adarga a minha família de porcelana que juntamente com os restantes indivíduos da tripulação aterrorizada, sucumbiam num sono asfixiante, induzido pela densa nuvem de gás “Sarin“ que paralisava as principais funções motoras daquela gentalha atordoada, compelida a validar a concordata xiita de uma “Guerra Santa“ aparentemente silenciosa.
Os gemidos abafados de agonia, extinguiam-se na tempestade furiosa do justiceiro espezinhado pelo mundo, no âmago das suas crenças mais obscuras, suportadas pela bandana de sangue que esvoaçava amedrontada naquele bafejo periclitante, sorvido pelos poros latejantes dos membros superiores que deslizavam pela vidraça suada do cockpit sequestrado, forrado com um papel higiénico vulgar com “ganas” de gritar a sua “Jihad“. Cedi no corredor venenoso das Termópilas, quase a alcançar o braço puerício do meu bondoso filhote, encurralado na pilha de assentos obesos, empacotados rigidamente com os cintos de segurança encravados em cada cintura, como sarcófagos improvisados em câmara-ardente, chupados pelo vórtice elíptico do animal dos céus abatido endogenamente.
As minhas persianas venezianas, desligavam potestativamente os vidros fumados das duas janelas britânicas, constrangidas pela inópia biológica do sistema imunitário ameaçado, imiscuído no estado tórpido mas vigilante dos sentidos. As asas elásticas do falcão colossal, torciam com a violência atroz da força gravitacional, mastigadas pelas turbinas aguçadas dos reactores tuberculosos que vomitavam piroclastos de “penas sólidas“, quase a calcinar numa cratera de vítimas humanas.
Mumificados para uma morte obediente, as burjacas de batata com pele, descascavam-se imaculadamente com o terramoto aéreo, encomendado inconscientemente por aquele paciente magnânimo que sofre de um transtorno dissociativo de identidade, Jesus do bem, Judas do mal.
Eu sou o passageiro registado com o número treze, sobrevivi os últimos dez anos da minha vida desprezível, ligado a um ventilador artificial, pregado à solidão de uma cama hospitalar, um vegetal fora do prazo de validade em estado de coma, perdido nas vivências alienígenas do meu “alter-ego“, num universo paralelo e esquizofrénico onde só eu posso entrar…

P.S – O resto da verdade anda por aí…

A Continuar...

Autora Da Imagem: Maria Teixeira Em: http://Olhares.aeiou.pt/alive


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Capítulo 20: Tempus Fugit

Música Recomendada: Ruthless Gravity - Craig Armstrong

Deportado do vaivém nacional, todo fodido pela coação feudal do monarca ariano, mergulhei crucificado para o pântano cosmológico, num salto em queda livre, abraçado aos legos carcomidos da nave esburacada que flutuavam em direcção à antiga estação espacial russa.
“Mir” para os camaradas nostálgicos, sequiosos de vodka, vendida a preço de saldo pelo terceiro neto do falecido Putin, presidente empossado de um “Kremlin” quase falido pelas luxuosas "rameiras” políticas da “Mother Russia”. Apupado na “Praça Vermelha” pelo vulgo soviético, injuriado na “Duma” pelos coiotes Estalinistas, aproveitou o meeting diplomático na “taberna” milionária de Seul, para viabilizar um consórcio misterioso que visava converter o hotel cosmonauta na nova Alcatraz do séc.XXI.
A quatrocentos quilómetros de altitude, erguiam-se as grades profanas do hodierno contentor prisional, que acomodava o lixo ganancioso da nata social. Exilados da fama exorbitante pela bófia dos mafiosos elitistas, cunhavam os rublos per capita da factura estadual, num circuito monetário cada vez mais desgastado pelas crises sistémicas da economia global. Mercadoria da ralé, negociada em francês, ao sabor de um odorante conhaque, refrescava o hálito repugnante da escumalha vadia que alienava eternamente as instituições democráticas, como um elixir revigorante do proclamado estado de direito.
Instalações equipadas com a tecnologia mais avançada, eram patrulhadas exaustivamente por sentinelas robotizados que acatavam religiosamente as ordens imperativas emitidas por um minúsculo telecomando de bolso, operado rigorosamente por outras máquinas inteligentes com patente oficial superior. Arrogantes por natureza, os “homens” de aço infalível, substituíam os seus “congéneres” de osso com defeito, anilhas sem salário, parafusos eficientes, microchips competentes, obstinados pelo trabalho. Reclusos finórios, abandonados na sua comuna velhaca, na solitária da solidão perpétua, sem dó nem piedade, serviam-se de algumas mordomias materiais, apenas para alimentar o xadrez megalómano da sua morte mediática. A gravitação possante, aspirava-me o peso subnutrido, débil e vil, acabrunhado pelas ventosas centrípetas das celas plutónicas que emanavam o gelo das almas cretinas, encarceradas num covil faustoso para sempre. A sedutora voz de fadista, subitamente libertada pelo microfone do altímetro falante, inserido supersticiosamente em torno do pulso vital, anunciava os últimos cinco segundos para o impacto brutal com a choldra sinistra, desejosa de acolher o “big bang” da teoria do caos.
Na cogitação filantrópica da frágil condição humana, elevei corajosamente os restantes quilates do meu dedo pesado como chumbo bruto, na tentativa ousada de distender a argola escorregadia que envolvia o fato isotérmico numa espuma carbónica protectora, naquela margem temporal de reacção em que tudo se esfuma e o tempo voa.

" Invictus "

Da noite que me cobre,
Negra como um poço de alto abaixo,
Agradeço quaisquer deuses que existam,
Pela minha alma inconquistável.
Na garra cruel da circunstância,
Eu não recuei nem gritei.
Sob os golpes do acaso,
Minha cabeça está sangrenta, mas erecta.
Além deste lugar de fúria e lágrimas,
Só o eminente horror matizado,
E contudo a ameaça dos anos,
Encontra e encontrar-me-á, sem temor.
Não importa a estreiteza do portão,
Quão cheio de castigos o pergaminho,
Sou o dono do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.

William E. Henley


A Continuar...

Autor Da Imagem: José Paiva Em
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Capítulo 19: God Is Contra Natura

Música Recomendada: Laura's Theme - Craig Armstrong

O fotograma genealógico da curta-metragem comovente, atropelava a vitrina dos sonhos utópicos que pernoitavam no remanso caseiro dos sorrisos eternos. A dualidade da minha alma sensacionista, revisitava o recôndito fraterno da cabana primaveril à beira-mar, naquele alpendre rústico juncado de colmos silvestres domesticados pelo espírito rebelde do meu encantador de cavalos. Os primeiros raios de sol madrugadores serpenteavam pelos seus cabelos encaracolados de mel e afagavam o seu rosto juvenil salpicado de sardas bondosas que iluminavam o seu olhar oceânico imbuído de luz. Rapaz traquina, explorava as interrogações retóricas da sua inocência filosófica, por entre choupos de babel que cheiravam a camélias com o café da manhã e jasmim com as doze badaladas da meia noite. Sorriso rasgado, coração de manteiga, galopava em “braille” pela imponente macieira de “Newton”. Era um regalo observar o Jamie a montar o nosso “lusitano” naquelas tardes amenas de vinil clássico e literatura romanesca. Feroz, compenetrado, testava os limites do seu talento inato como cavaleiro, rédea curta, fôlego exacerbado, “jockey” da cruzada sem cor que lhe deu o título “és um renegado”. Poeta apaixonado, morava no feno dourado da cavalariça mágica, resguardado pelo bafo sereno da mímica selvagem do seu amigo equestre. Não deixava ninguém aproximar-se do seu menino querido, sem oferecer os préstimos das suas pesadas ferraduras com o cumprimento simpático do habitual coice da praxe. Perdia-me na contagem emocional das inúmeras vezes que o ia tapar delicadamente com a manta polar da avó, naquelas alvoradas torrenciais em que mitigava o cansaço, refastelado na crina grisalha do seu confidente telepático. Deliciava-me a espiar secretamente aquele momento sublime por breves instantes, o compasso harmonioso da respiração infantil, as caretas angelicais dos lábios comediantes, a pose fetal do “bambino” mimado pelo cordão umbilical do amor incondicional. Herói do meu duelo de esgrima existencial, na “Broadway” dos humildes, naquele palanque de trapos onde os pais orgulhosos atribuem diariamente o prémio invisível para o seu “underdog” sobredotado. Esquecia-o na discussão histérica das sirenes impulsivas que berravam com as convulsões eléctricas do meu ser reanimado. Lembrava-o na expedição aquática dos glóbulos vermelhos ao mundo exterior, na chicane sinuosa das minhas mãos empastadas de sangue. Perdia-o na sonolência temporária do soro fisiológico induzido, despertado pela rigidez do estetoscópio examinador. Encontrava-o na seringa de adrenalina excitante, nas brumas de um carma subjugado por um “God” que é contra natura.
 
P.S - Dr.Anderson, o paciente está pronto para a intervenção cirúrgica.
 

"Um homem faz o que pode até o seu destino lhe ser revelado".

A Continuar...


Autor Da Imagem: José Paiva Em http://olhares.aeiou.pt/JP8296


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Capítulo 18: O Pecado De Ícaro

Música Recomendada: I´m Sending You Away - M83


Vejo-te Deus:

Errante supremo do casulo ninfeu germinado em luz,
Invólucro úbiquo, túnica puritana do sorriso caloroso que seduz,
Claustro de níquel, clareira interdita no cume do horizonte que levita,
Esfera vulcânica, o nimbo giratório do ilustre clérigo jesuíta...


Sinto-te Deus
:
 


C
arícia afável na brisa foragida da masmorra lívida em ruína,
Incenso adocicado, ermo soturno exilado num cálice de morfina,
Sílaba afectuosa, salmo do gladiador que dormita no sanatório da sorte,
Catarse exorcista, fénix de cera que ressuscita na alcofa certa da morte…


Despeço-me Deus
:


Algema de papel sem cadeado, "rudius" libertino do compromisso assinado,

Toga de amigo, sentença adiada, acólito absolvido do veredicto comprado,

Chaga de tudo, insónia de nada, mandatário semita do mundo acabado,
Ferrete de sangue, sabre empunhado, o guerreiro do inimigo malogrado


"Só quem estiver disposto a morrer por algo será digno de viver"


Autor das imagens: Luís Lobo Henriques Em http://olhares.aeiou.pt/lloboh

 

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Capítulo 17: Damkina 01

Música Recomendada: Mars - Clint Mansell

As faúlhas incandescentes, expelidas abruptamente do motor cálido em ignição, beliscavam vertiginosamente a viseira fumada do meu capacete aeronáutico, desgastado com os clarões de cegueira que sapateavam harmoniosamente com as suas sombras alvoraçadas num efeito luminoso de rara beleza visual. O poliedro diáfano reproduzia o céu circular dos sonhos humanos, salpicados na tela fresca da esperança por um pincel borrado de tinta seca atormentada pelo vaticínio infortunoso do sossego espacial.
O paradoxo cruel do meu senso instintivo palpitava o fastígio da morte velhaca que gatinhava prematuramente no adágio ritmado para o seu encontro pontual. Eu sentia o rasto calculista das migalhas emocionais que iam sendo debicadas na pausa oscilatória da viatura acrobata, conduzida imaculadamente pelos pixeis inteligentes do seu processador quântico monstruoso, patenteado solenemente com a rubrica memorial da falecida companheira do seu inventor “Damkina“. Baptizado com a qualidade mais apreciável da sua alma gémea desaparecida, a “Esposa Fiel“ conservava no íntimo nuclear a curvatura elíptica da volúpia feminina, difundida por um tentáculo electrónico ramificado em milhares de nano chips ultra-velozes que sustentavam a figura virtual do aclamado "software" de navegação, preferencialmente adoptado pela comprovada eficiência e fiabilidade na perenidade matrimonial entre a máquina insensível e o homem emocional. Numa era institucionalmente robotizada pelo “mainstream” do intelecto artificial que desprezou o disco compacto como “mídia” convencional, os eléctrodos tubulares comutados na têmpora neurológica, conectavam-se com a matriz do servidor “on-line” que registava num padrão codificado os dados individuais procedentes da intensa actividade sináptica de cada ciber-navegador ligado à "aldeia global". Imune aos ataques corruptivos dos talentosos piratas contemporâneos, o “mare nostrum socialis” fortificava a segurança da sua “muralha da China” com o betão policial de um agressivo porteiro “firewall” que autenticava criteriosamente o “IP” cerebral do cardume de marinheiros internautas, identificados na rede pública mundial pelo “avatar” digital da sua verdadeira aparência física.
Unos na infusão binária de um programa pré-instruído, as inúmeras imagens residuais dos indivíduos genéricos interagiam intimamente num “lobby“ tridimensional, sistematizado num mercado “origami” de temáticas multi-disciplinares que eram alfândegariamente descarregadas para o ecrã táctil do sistema operativo, em consonância com o fluxo nervoso da vontade interpretada por um roteiro intuitivo, mediador de todas as aplicações requisitadas. O comandante automático sem “brevet” nadava com o pedaço de lata no gueto celestial, deslizando com constância pelo crocito turbulento da saturada cintura de asteróides que encobria o “ovni” destinatário do passeio turístico incógnito. A córnea longínqua revelava o “slide” míope de uma ilha mecânica auscultada na escuridão do escuro por um vestígio familiar replicado miraculosamente no cânone sonoro do "Chronos" ainda vigente. Encurralado na ganância bondosa do “Alpha e Omega” semi-delinquente, aquele rochedo usurpador deliberadamente increpado, perfurou o casco vitríolo do aparelho orbital crivado de feridas materiais que gratinavam no corredor magnético do palácio estrangeiro, irreconhecido no mapa cartográfico planetário.

P.S - Adeus, Sr.Haiden!

A Continuar...

Autor Da Imagem: Paulo Madeira Em http://paulomadeira.net


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Capítulo 16: A Equação De Nosferatu

Música Recomendada: Matrix Of Leadership - Steve Jablonsky

A humanidade amarrada numa camisa de forças ripostava na hora certa da injecção letal com o braço de ferro em carne viva, no epíteto cataclísmico do planeta azul quase desaparecido nas entranhas viscosas do silêncio espacial. O convénio de Judas exaltava o fanatismo dos seus apóstolos recém-associados com a água benta lambida das sete chagas de Cristo, agrupados em colunas robustas meticulosamente organizadas pelo sinal semiótico do seu código linguístico selvagem. Na dianteira dos meus olhos exorcizados de terror, os carniceiros delatores delineavam o plano geoestratégico belicista, chicoteando-se mutuamente com palmadas de regozijo narcisista, aparelhados com o cilício farpado, símbolo carpidor do massacre humano inevitável no certame definitivo de todas as decisões.
A sua compleição física vigorosa impunha respeito, o crânio felídeo envolvido num crustáceo excrementoso de borbulhas montanhosas, repudiava a sensibilidade de qualquer íris vulgar num tumulto lacrimoso, agravado pelo colosso torácico, esguio e espadaúdo que definhava o meu músculo cardíaco melindrado de agonia. Os membros superiores e inferiores eram extensos e sinuosos, revestidos por uma película pegajosa que albergava uma pelagem eriçante e volumosa numa miscelânea alienígena autenticada com a insígnia flamejante do Minotauro infernal.
A falange cascavel aumentava a dose do cerco venenoso, mantendo em rédea curta o batalhão totalmente desfalcado das forças especiais de salvamento que flutuavam nas suas sobrancelhas pitorescas com os canudos cerrados na têmpora crucificada de infra-vermelhos apontados para disparar. O hino das lamentações bradava ao cosmos a sobrevivência da espécie racional hedonista que contrastava com o grimpar volumptuoso dos bicharocos doentios, encantados com a ideia romântica de passearem à beira-mar por um jardim melancólico ornamentado de caveiras humanas.
No instante oportuno em que pressionava a alavanca fatídica para activar o gancho de aterragem das naves espaciais, o sibilo bárbaro desencadeia uma avalanche torrencial de ataques aracnídeos infestados de ira numa teia predadora que gradeava irremediavelmente o último reduto de homens bravos em desvantagem numérica, atordoados por uma defesa improvisada, fazendo das tripas coração, com o reduzido poder de fogo ainda disponível ao seu alcance. Os canhões de plasma, equipados solitariamente em cada veículo voador eram impotentes para travar o assédio compulsivo das viúvas negras apaixonadas que eram cuspidas num embrulho alimentar venoso proveniente das gargantas gástricas do inimigo público número um, como um beijo coercivo no código genético sapiente, adulterado e convertido para o clube dos poetas mortos. Mulheres grávidas separadas dos seus maridos, crianças órfãs perdidas dos seus pais adoptivos, idosos arrancados das camas dos seus lares provisórios, vítimas do dogmatismo preferencial do protocolo de evacuação, choravam o memento da amnistia divina, como um agregado familiar unido de mãos entrelaçadas para sempre, com a memória inesquecível do festival olímpico de arremessos ensurdecedor.
As maquinetas aéreas sobrelotadas despenhavam-se descontroladamente a pique, engolidas pelos monstros sanguinários que cortavam o metal simetricamente, separando o cockpit sem condutor da cauda aviónica sem propulsor. Por breves instantes, permaneci colado na víscera das minhas emoções imbuídas de uma raiva gradualmente galopante que incitava a necessidade categórica de agir. Comecei a descarregar como um louco em todas as direcções num movimento de trezentos e sessenta graus, rajadas de tiros protoplasmáticos e granadas criogénicas que estoiravam com os miolos dos invasores pelos recantos periféricos do complexo científico, no comunicado exuberante de desforra em nome da minha mulher e filho. Rastejei até aos escombros cobertos de corpos quase vivos que ainda ardiam no meio das chamas dos pássaros caídos, na diligência esforçada de encontrar Amanda e Jamie. A retina processava vertiginosamente as parecenças congénitas numa dualidade emocional de ansiedade e receio atormentada pela dúvida existencial de indícios homogéneos no naipe craniano desfigurado na fervura efervescente do caldo sebácico ebulidor.
Não existiam sobreviventes, a totalidade dos ocupantes de cada transporte acabaria por falecer instantaneamente no fluído vertido dos seus graves ferimentos, envolvidos na teia suicida dos pilotos extremistas que faziam explodir os aviões desviados na direcção dos que tentavam escapar a todo o custo, num cogumelo combustivo expandido pelo Universo. Escondido invisivelmente no refúgio biblíco daquela sucata de gente, murmurei aos deuses a agonia de viver violentado a observar os escravos diabólicos com os manifestos de voo a conferir o somatório dos finados, completando a sequência Fibonacci do holocausto mundial.
Saboreei o revólver na língua insípida e tesa, desejosa de lamber o gatilho aliciado por um prazer único terminativo, mas uma voz alegórica de esperança matutava com persistência os apelidos dos meus dois tesouros mais valiosos, relevando as suas letras brilhantes na maldita tira de papel processado a computador que sorria para mim com a informação detalhada de cada passageiro disposto por ordem alfabética.
Aguardei pacientemente pelo momento oportuno e quando as criaturas de ébano viraram costas, ataquei o confidente do mencionado documento escrito, paralisando-o com um choque encefálico de quinhentos volts induzido silenciosamente pela pistola Taser. Discretamente, sem chamar a atenção dos idiotas descuidados, resguardei-me numa sombra estrutural e percorri apressadamente a lista de palavras relacionadas com alguém, num suspiro profundo de alívio abraçado pelo sentimento esquecido do abandono eremita numa vida insignificante privada de sentido.
Estava na hora de fugir daquele hospício mental com a motivação nostálgica de regressar finalmente a casa e abraçar calorosamente a minha esposa com o seu avental colorido a cozinhar a minha refeição preferida, auxiliada pelo seu ajudante amador, empenhado em deixar o seu toque pessoal no petisco delicioso. Sem deixar qualquer rasto suspeito, esgueirei-me habilmente por uma passagem secreta subterrânea que dava acesso à “Sala das Cápsulas de Emergência” e ao deparar-me com uma cortina de aço composta por dois bisontes que vigiavam a entrada, assobiei sensualmente no engodo de ludibriar a sua fraca inteligência cognitiva e no instante da sua aproximação à parede que ocultava o meu esqueleto por inteiro, pulverizei-os com múltiplos abalos eléctricos embalados num conto infantil de boa noite. Para mal dos meus pecados redimidos, um dos lobos noctívagos conseguiu ainda emitir a sonata musical do intruso infiltrado antes de padecer, atraindo o exército de Nosferatu ao local do crime reincidente. Barriquei as portadas com um machado excessivo encontrado no escaparate para incêndios e ejectei-me gloriosamente na cápsula de fuga, dizendo adeus aos vampiros frustrados que batiam amarguradamente com as dentuças enjoadas no portão encravado.

P.S – Sentia-me um solitário perdido na imensidão do espaço, enclausurado no habitáculo do foguetão sustentado por um tanque de combustível quase na reserva e um sinal luminoso intermitente que não cessava de piscar no radar embutido na consola de navegação.
As minhas faculdades mentais encontravam-se diminuídas e os resquícios de gasolina só permitiam viajar para o local desconhecido, identificado pelo rádio telemétrico.

Status
: Triangulação De Novas Coordenadas...Ok

A Continuar...

Autor Da Imagem: Paulo Madeira Em http://paulomadeira.net

Dedico este texto a uma pessoa muito especial, que roubou o meu coração e pagou o resgate, com muito amor, apoio e admiração, por mim, por tudo aquilo que sou, por tudo aquilo que faço. Obrigado Carla, Love Ya...


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Capítulo 15: Ilusionista Da Morte

Música Recomendada: Be Wild - M83

Sacrilégio satírico do homem da barca invisível que cobre a ninharia da vida com o véu acetinado tingido em cravos de sangue, no presídio da identidade pessoal inscrita no reverso da moeda do destino atiçada ao ar aleatoriamente sem nexo…

Alquimista da ode eufemista canonizada na verdade da mentira dissimulada, que deambula vingativamente pelo calvário superficial do elmo de aço psicológico entranhado no âmago cerebral indestrutível…

Ornato violento de expiação carnal mascarada no cepticismo da aparência omnipotente, mergulhada na fonte eutrófica da prognose existencial imbuída na psicomansia do sepulcro terrestre…

Feiticeiro dramaturgo da odisseia gestual teatralizada no refúgio invisível da maquilhagem comovente, representada no bailado hermetista do actor teosófico…


Coreografia artística do ilusionista da morte encenada com a auréola de espinhos envenenados em ódio, engenhosamente camuflada no marasmo do mártir sobrevivente do seu homicídio individual…

Teatralidade e
Ilusão são poderosos agentes
ao serviço de um sujeito
que
precisa de ser mais
do que um simples homem


na mente do seu opositor



Autor da Imagem: Paulo César Em http://paulocesar.eu

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Capítulo 14: Gun-Fu

Música Recomendada: Castor - Daft Punk

De tenra idade, renascidos da forja humana com a ambição motivadora potenciada pela inocência da sua curiosidade filosófica, iniciavam a sua preparação física e aprendizagem intelectual no “Agoge”,um centro de formação militar que visava treinar intensivamente os jovens soldados amadores numa arte marcial milenar, o "Gun-Fu", a fusão perfeita entre a perícia de disparo com uma arma de fogo e a técnica corporal de auto-defesa pessoal, apaixonadamente embrenhadas numa finalidade comum, proteger e eliminar a todo o custo.
O antigo entrelaçava-se fielmente com o moderno numa redoma sensível de conhecimentos teórico-práticos, alheios ao anacronismo da formulação e reformulação constante, ao longo de décadas, do papiro revelador dos princípios fundamentais de combate, rabiscados com o objectivo precípuo de maximizar eficientemente a capacidade de tiro assente na predição intuitiva da posição angular de cada invasor hostilizante.
Possibilitando um acréscimo percentual de sucesso na ordem dos cento e vinte por cento comparativamente a um simples ataque convencional, este poderoso instrumento secreto só estava ao alcance das mentes mais dotadas reflexivamente, mutuamente acompanhadas por atributos físico-atléticos minuciosamente seleccionados devido à demanda dos elevados níveis de concentração psicológica e exaustiva mobilidade motora na execução imaculada de um gesto sangrento desferido para matar.
O espaço circundante era memorizado visualmente num milésimo de segundo, na fotografia de um mapa mental que continha a posição exacta de cada inimigo num plano tridimensional, conferindo ao autor da sua exímia compreensão, um único golpe certeiro capaz de eliminar trinta alvos simultaneamente como um carrasco profissional coleccionar de cabeças numéricas. Improvisação e adaptação eram as palavras de ordem, num mundo ainda regido por leis naturais que podiam ser contornadas pela criatividade inesperada da inovação espontânea, o elemento surpresa como afirmava o meu mestre. A interiorização mecanizada deste estilo materializava-se em torno de um círculo idealizável possuidor de dois graus distintos, o primeiro correspondia ao treino corpo-a-corpo executado e aperfeiçoado no dojo sob o tatame japonês, o segundo reconduzia o estudante para um ambiente virtual que simulava todos os cenários possíveis e imaginários de abordagem ofensiva, sem esquecer o confronto agrupado ou individual que pudesse decorrer das inúmeras circunstâncias apresentadas em tempo real. Ângulos infinitos de trajectórias aleatórias eram cuidadosamente calculados e analisados analiticamente por um super-computador holográfico, numa representação estatística dos movimentos tácticos e geométricos de cada agressor no momento anterior e posterior de premir o gatilho, fintando evasivamente todo e qualquer dano colateral que pudesse advir desse penoso e intencional acto violento.
Vinte anos, era o período cronológico que separava o miúdo delgado e inútil do adulto musculado e ágil ao serviço da infantaria de elite, os guerreiros virtuais recém-graduados com prestígio e excelência que transportavam a insígnia invisível da virgindade empírica no campo de batalha. Assassinavam em nome do "Pai", líder dos seguidores, chefe dos governadores, toldados por um bem superior humanitário de igualdade e liberdade confundível com um gesto de agradecimento egoísta de guarida das suas vidas repletas de insignificância à nascença num berço de palha. Infelizmente, eu era um deles, revoltei-me fortemente contra o sistema opressor e desertei cobardemente durante toda a minha vida. As noções extremamente avançadas de informática escancararam-me as portas da absolvição sofrida e demorada, ao ludibriar o pacemaker de localização implantado nas entranhas do meu músculo cardíaco como uma reversível doença terminal. Forçado a mudar de identidade, refugiei-me na penúria da minha sombra fugitiva, escondido atrás de uma secretária fria e atulhada de manuais de linguagem pascal, uma penitência isolada atenuada apenas pela aparência de um mero técnico de programação que agora era procurado para ser exterminado pelo mesmo governo responsável pela sua própria invenção...

"A única coisa mais poderosa que o sistema, é o homem que o conseguir derrubar"

A Continuar...

Autor Da Imagem: Nuno Ramos Em http://olhares.com/quartzob

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Capítulo 13: Hematoma Cibernético

Música Recomendada: End Of Line - Daft Punk

O mundo ingenuamente enganado como um pequeno adulto imaturo, vivia a verdade da mentira encoberta com mestria pelos principais líderes mundiais. Eu fui um produto dessa lavagem cerebral, adulterada na sua essência pelo paleio da retórica engenhosa do agrado, dirigida às massas populares imbuídas de cegueira. Uma falsa ilusão democrática, aquecia os corações mais frios com o calor das vozes da arraia miúda, emocionalmente controlada pela autoridade soberana da ditadura vigente. A realidade objectiva, perdia-se na obscuridade pervertida do poder ilimitado dos “Lords” aristocráticos, que impingiam a sua propaganda ideológica através da manipulação criteriosa do fluxo informativo a uma escala global.
O célebre fenómeno que ficou vulgarmente conhecido como “Bug Do Ano 2000”, constituiu a derradeira fase de implementação e consolidação do mencionado sistema informatizado, destinado a falsear todas as provas empíricas da existência humana; na tentativa inteligente de camuflar um ganancioso projecto “Top Secret” levado a cabo por entidades sem rosto, hierarquicamente superiores aos próprios governos de cada nação.
O projecto “Génesis” como foi apelidado, tinha sido concebido para devolver do reino dos mortos, todos os soldados dos países aliados que falecessem heroicamente a combater pela sua pátria, poupando a lágrima chorosa da perda familiar e as despesas monetárias de cada estado nos respectivos caixões das vítimas. Os seus corpos inanimados, tecnicamente considerados como óbitos, eram reconduzidos para a sede da “Cyber-Arms”, uma espécie de “Área 51” disfarçada pela “Genotech” que servia de fachada para o segredo mais bem guardado do planeta, o “Santo Graal” da vida eterna. Um milagre da tecnologia moderna que parecia tão simples como reconstruir um corpo inteiro recorrendo a próteses mecânicas de titânio, revestidas por um componente natural que imitava a pele corporal ou substituir órgãos vitais por peças inorgânicas, produzidas com materiais sintéticos e maleáveis incorporados por micro-chips avançados dotados de inteligência artificial que simulavam a vida biológica. No plano prático os novos seres modificados permaneciam aparentemente inalterados à vista desarmada: mantinham a mesma aparência física que os caracterizava e conservavam de igual modo a profundidade psicológica das suas ideias, crenças, valores e emoções, tão revelador do seu peculiar carácter pessoal. Em troca só tinham de garantir o sigilo completo destas actividades supra-militares de ressuscitação, como autênticos “Cyborgs” cibernéticos: metade homem, metade máquina, que eram constantemente monitorizados, sob pena de serem automaticamente destruídos pelo dispositivo eutanásico de segurança introduzido no interior do seu coração.
Finalmente, os magnatas anónimos, refugiados em pano de fundo como meros espectadores, substituíam-se a Deus na decisão subjectiva de quem vive e quem morre. Mas esta operação éticamente polémica escondia outros propósitos sombrios, mais condizentes com a necessidade política e económica de enriquecer e dominar o mundo dos homens; por via da criação de um super-exército composto por guerreiros de elite, mais resistentes e menos vulneráveis às armas de fogo, os despojos de guerra que serviam agora para derrubar eficazmente todos e quaisquer opositores que se cruzassem no seu caminho. 
Enquanto mais de metade do universo humano morria de fome ou de doença, uma pequena fracção percentual dessa maioria continuava a respirar o oxigénio vital, num privilégio instrumental alimentador de uma mente retorcida.

P.S - Erro no sistema - Reboot

Homo Homini Lupus - O Homem É O Lobo Do Homem

A Continuar...

Autor da Imagem: Paulo Madeira Em http://paulomadeira.net

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Capítulo 12: Antropomorfose Divina

Música Recomendada: Ezio's Family - Jesper Kyd

Culto esotérico do sonho mitológico apolíneo, visualmente dedutivo das últimas velas vitais que ardem na sinagoga do Olimpo, onde os Deuses imortais elaboram os glifos invisíveis com as leis fundamentais do Universo…

Blasfémia do cientismo genesíaco, filosoficamente censurada pelo tribunal eclesiástico ateniense, inquiridor das conspirações que profanam o Deus cosmológico teocêntrista…

Misticismo
religioso do dogmatismo coloquial e privado, helénicamente transportado da entidade teológica para o ser espiritual, receptor das coordenadas existenciais da sua sigilosa missão terrestre

Ocultismo
politeísta da predestinação pragmática dos poderes santificados, profilacticamente transmissíveis na urgente redenção mundial do monstro quimérico que viaja escondido no interior da caixa de Pandora…

Encarnação do verdadeiro segredo alienígena, invejosamente mascarado pelo Olho Providente que tudo vê e nada deixa escapar…


"Os Deuses invejam-nos
porque somos mortais,
porque cada momento pode ser o último e tudo é mais bonito por estarmos condenados pelo destino"

Autor da Imagem: Paulo César Em http://paulocesar.eu


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Capítulo 11: Primeira Vaga

Música Recomendada: Shredders - Steve Jablonsky

A pressão psicológica da fobia temporal, injectava a morfina orgânica no meu corpo fragilizado, já em estado indolor, instintivamente conduzido pelo automatismo transcendente da minha vontade metafísica. A marca sucessiva da impressão sanguínea digital do indicador hiperactivamente martirizado, cravada no botão luminoso do elevador prateado, espelhava a construção imagética daquelas garras polidas e cintilantes, na cavalgada agressiva e hostilizante dos cavaleiros das trevas. O cubículo elevatório tardava em chegar, causando a ilusão optical da paragem cronométrica ascensional dos dígitos numéricos do mostrador decimal, no murmúrio temporalmente intimidatório da derrota pré-consumada.
As ondas sonoras expandiam cromáticamente o pulsar do lado negro biogenético, empestando os resquícios aeróbios com a glicerina mórbida dos necrófagos nauseabundos; agravando a minha respiração asmática traqueal, que se afogava vagarosamente no tóxico agonizante, agregado ao fantasma hediondo da espera aflitivamente incerta e impaciente. A palidez da tontura fraquejante, apregoava o sermão da advertência consciente biologicamente artificial, sinalizando sinapticamente o apelo recorrente à terapêutica instantânea do último ansiolítico anti-sincopal, que eu trans- portava sempre no fundo falso do meu requintado cantil de whisky. Imediatamente, a lucidez motora restabelecida parcialmente pelo efeito eficaz do sedativo medicinal, devolveu-me uma força acrescida superior, necessária para erguer novamente a arma de fogo científica e vigiar pela mira de zoom telescópico, os bichos horrendos que se aproximavam eruptivamente como raposas matreiras, brotando dos olhos o magma ardente originário das catacumbas vulcânicas do Inferno.
O tempo de vida esgotava-se drasticamente com a mesma fugacidade extenuante dos derradeiros cartuchos de munições protoplasmáticas perfurantes que eram descarregadas brutalmente, em rajadas de fogo cruzado como farpas incisivas que atravessavam os pedaços de carne esponjosa, decorando artisticamente o estuque metálico das paredes do vasto corredor rectangular com a pintura gótica dos seus restos mortais irreconhecíveis. A proximidade daquele bafo agonizante, emanado das suas fossas nasais fumegantes, chamuscava a minha pele irritada como um bálsamo desidratante que, absorvia energeticamente todas as gotículas sudoríferas resultantes da exaustiva actividade corporal do meu ser lastimável. Miraculosamente, no milésimo de segundo em que a primeira fileira de criaturas sobreviventes, aperaltava a goela animalesca para engolir o meu cadáver suculento, captei o batuque angelical da salvação e voei de costas para o interior das portadas electrónicas entreabertas do elevador, atiçando uma granada criogénica de luz congelante que adiou momentaneamente o horário sagrado da sua refeição nocturna.  
O rugido de frustração enervava o estoicismo da sorte aparentemente ocasional, fazendo estremecer o ascensor eléctrico, enquanto aguardava aliviadamente pela chegada merecida ao “Hangar das Naves Espaciais“. Finalmente, um sorriso esbatido substituía o semblante carregado do meu rosto mal tratado, ao visualizar as naves de salvamento que sobrevoavam a plataforma espacial em manobras aéreas de aterrarem, mas era somente o princípio do fim. Inesperadamente, no ápice em que activava o gancho de acoplagem das máquinas voadoras, a primeira vaga do exército dantesco "emergiu" do solo, formando um cordão umbilical compacto e denso que preenchia o espaço vazio em redor. 

P.S - Eu tinha apenas provado uma amostra diminuta das capacidades maléficas dos soldados da noite que não passaram de uma mera manobra de diversão infantil e idiota do seu aquecimento preliminar, constituindo um meio para atingir um fim inevitável. A verdadeira batalha começava agora. A guerra dos mundos travava-se no espaço, mesmo debaixo das "barbas" do criador do Universo.

"O que define uma pessoa, não é a sua identidade interior,
mas antes o seu modo de agir exterior"

A Continuar...

Autor da Imagem: Ddiarte Em http://olhares.com/ddiarte

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