Música Recomendada: Ruthless Gravity - Craig Armstrong
Deportado do vaivém nacional, todo fodido pela coação feudal do monarca ariano, mergulhei crucificado para o pântano cosmológico, num salto em queda livre, abraçado aos legos carcomidos da nave esburacada que flutuavam em direcção à antiga estação espacial russa.
“Mir” para os camaradas nostálgicos, sequiosos de vodka, vendida a preço de saldo pelo terceiro neto do falecido Putin, presidente empossado de um “Kremlin” quase falido pelas luxuosas "rameiras” políticas da “Mother Russia”. Apupado na “Praça Vermelha” pelo vulgo soviético, injuriado na “Duma” pelos coiotes Estalinistas, aproveitou o meeting diplomático na “taberna” milionária de Seul, para viabilizar um consórcio misterioso que visava converter o hotel cosmonauta na nova Alcatraz do séc.XXI.
A quatrocentos quilómetros de altitude, erguiam-se as grades profanas do hodierno contentor prisional, que acomodava o lixo ganancioso da nata social. Exilados da fama exorbitante pela bófia dos mafiosos elitistas, cunhavam os rublos per capita da factura estadual, num circuito monetário cada vez mais desgastado pelas crises sistémicas da economia global. Mercadoria da ralé, negociada em francês, ao sabor de um odorante conhaque, refrescava o hálito repugnante da escumalha vadia que alienava eternamente as instituições democráticas, como um elixir revigorante do proclamado estado de direito.
Instalações equipadas com a tecnologia mais avançada, eram patrulhadas exaustivamente por sentinelas robotizados que acatavam religiosamente as ordens imperativas emitidas por um minúsculo telecomando de bolso, operado rigorosamente por outras máquinas inteligentes com patente oficial superior. Arrogantes por natureza, os “homens” de aço infalível, substituíam os seus “congéneres” de osso com defeito, anilhas sem salário, parafusos eficientes, microchips competentes, obstinados pelo trabalho. Reclusos finórios, abandonados na sua comuna velhaca, na solitária da solidão perpétua, sem dó nem piedade, serviam-se de algumas mordomias materiais, apenas para alimentar o xadrez megalómano da sua morte mediática. A gravitação possante, aspirava-me o peso subnutrido, débil e vil, acabrunhado pelas ventosas centrípetas das celas plutónicas que emanavam o gelo das almas cretinas, encarceradas num covil faustoso para sempre. A sedutora voz de fadista, subitamente libertada pelo microfone do altímetro falante, inserido supersticiosamente em torno do pulso vital, anunciava os últimos cinco segundos para o impacto brutal com a choldra sinistra, desejosa de acolher o “big bang” da teoria do caos.
Na cogitação filantrópica da frágil condição humana, elevei corajosamente os restantes quilates do meu dedo pesado como chumbo bruto, na tentativa ousada de distender a argola escorregadia que envolvia o fato isotérmico numa espuma carbónica protectora, naquela margem temporal de reacção em que tudo se esfuma e o tempo voa.
" Invictus "
Da noite que me cobre,
Negra como um poço de alto abaixo,
Agradeço quaisquer deuses que existam,
Pela minha alma inconquistável.
Na garra cruel da circunstância,
Eu não recuei nem gritei.
Sob os golpes do acaso,
Minha cabeça está sangrenta, mas erecta.
Além deste lugar de fúria e lágrimas,
Só o eminente horror matizado,
E contudo a ameaça dos anos,
Encontra e encontrar-me-á, sem temor.
Não importa a estreiteza do portão,
Quão cheio de castigos o pergaminho,
Sou o dono do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.
William E. Henley
A Continuar...
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